Associações de sono são as vilãs do sono tranquilo?

Associação de sono é tudo aqui que o cérebro entende como sinalização de que pode relaxar a mente e o corpo para conseguirmos dormir. O mesmo acontece com os bebês a partir dos 6 meses, quando eles começam a consolidar as referências da rotina, identificar previsibilidade na sequência de eventos e associar situações. É importante pontuar de início, associação de sono não é algo ruim por si só, é algo completamente natural e fisiológico que todos nós temos.

Mas, por que então esse termo é usado como algo negativo quando falamos do sono infantil?

Isso acontece porque, muitas vezes, as associações de sono que o bebê tem são disfuncionais e prejudicam o retorno ao sono após um microdespertar, em vez de facilitar a manutenção do sono. Quando a associação é uma atividade que demanda a intervenção de alguém além do próprio bebê como amamentar (em casos de bebês maiores que já não precisam de alimento durante noite), colocar a chupeta na boca (nos casos de bebês que não conseguem encontrar a chupeta no berço e colocar na própria boca), ninar, caminhar no canguru, passear de carrinho ou no carro, a necessidade dessa intervenção e a espera para que seja implementada pelo cuidador acaba fazendo com que o bebê eleve seu nível de alerta e fique mais ativo e difícil de retornar ao sono, resultando em insônia pro bebê e pra mãe. Essa disfunção tem o nome de “Distúrbio de Associação”, sendo um tipo de insônia comportamental da infância e, nesse caso sim, a associação é negativa por estar prejudicando o sono da família em vez de facilitar o adormecer e a manutenção do sono. Esse distúrbio é mais frequente em crianças de 6 meses a 3 anos de idade e não é auto-resolutivo, ou seja, os despertares noturnos frequentes ou longos irão continuar se não houver uma intervenção assertiva na condução da situação. A pesar disso, mesmo sem uma atuação para solucionar o distúrbio, a tendência natural é que a quantidade de episódios tenda a diminuir a partir dos 3 anos, embora possam perdurar até a vida adulta.

Como saber se as associações de sono do meu filho são saudáveis ou se são negativas?

Para responder esse questionamento, é preciso antes responder 4 perguntas principais: 1) Adormecer é um processo lento e requer condições especiais? 2) As associações com início do sono são problemáticas e requerem muito esforço? 3) Na ausência de elementos da associação, o início do sono está significativamente atrasado ou sono fica fragmentado? 4) Os despertares noturnos requerem uma intervenção custosa ao cuidador para que a criança retorne a adormecer?

Se a resposta para essas 4 perguntas for sim, é muito provável que se trate de um caso de distúrbio por associação de sono, o que merece uma reflexão sincera em família sobre o quão desafiador é o cenário e se há a necessidade de buscar ajuda profissional e qualificada para melhorar a qualidade de vida familiar.

É importante destacar que é inadequado aplicar a classificação de insônia comportamental de distúrbio por associação antes dos 6 meses de vida, porque o bebê ainda esta maturando sua capacidade de funcionamento fisiológico com distinção clara dos períodos dia-noite, ainda desenvolvendo a aptidão para dormir a noite toda.

E como funciona o tratamento?

Por se tratar de um tipo de insônia comportamental da infância, o tratamento é realizado através da condução e orientação de um profissional especializado em sono infantil, que irá avaliar o quadro de forma individual e definir a melhor estratégia para a criança e a família construírem novos hábitos e associações saudáveis, substituindo as associações negativas. Essa condução deve ser assertiva pois, ao atuar de maneira incorreta, pode acabar reforçando ainda mais os hábitos disfuncionais e aumentando a dificuldade da criança para aceitar novas conduções no sono.

Fonte: BARBISAN, Beatriz Neuhaus. Medicina do sono. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019. 237p

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O sono do meu bebê é normal?